domingo, 27 de fevereiro de 2011

O Documentário Megalómano

Lembro-me de ler um livro sobre documentário onde o pobre do homenzinho disse, "para fazer um documentário é preciso ser cruel". Para fazer um documentário moderno, talvez, onde os close-ups são guardados para as lágrimas. E para fazer um documentário como Flaherty\Herzog, é preciso ser bom mentiroso, e para fazer um Pedro Costa é preciso ter insónia. Todo a forma documental tem as suas vantagens\desvantagens mas o resultado final é sempre o mesmo - uma fracção da realidade determinada por uma opinião pessoal disfarçada de registo de opiniões e\ou comportamentos de outras pessoas.

Eventualmente devíamos admitir que o realizador existe, que ele determina as entrevistas e as perguntas e que na forma contemporânea de documentário não existe objectividade. O melhor documentário que eu já vi seria então "As Praias de Agnés".

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Le Cinema Absolue

 "Pop Art em movimento".

A sequência inicial é uma collage à la Stan Brakhage (e essa é a influência que eu conheço mais, a sequência passa tão rápido que quase não temos tempo para compreender que espécie de génio em àcidos a concebeu) sobre música de Beck. Nos primeiros minutos temos instruções claras que Edgar Wright quer mostrar-nos mais cinema mais do que de lógica ou progressão narrativa. Para uma análise da sequência de abertura e um vídeo HD, junto com uma entrevista com os seus criadores aponto o excelente website - Art of the Title Sequence "Scott Pilgrim vs. The World"











Os sintomas da loucura começam logo com a primeira imagem com um logo da Universal convertido em 8-bit. A conversa inicial parece-me normal, filmada em master shot\close-ups, e é aqui que Wright parece falhar mais no seu o objectivo, stressado numa das entrevistas que li:

I wanted to give you the feel of a comic book, where every shot feels meant. Artists spend a long time drawing a frame or a panel; what they don't do is coverage. You see a lot of action films or comedies that are just wide-shot, mid-shot, close. What I tried to do, and we failed a couple of times, but what I said to Bill Pope was, "Every cut is a new shot." 


Wright podia aprender de Von Trier e abdicar do match-on-action. Mas olhem para aquela distorção de perspectiva (o sofá parece agora estar a 20 metros da banda) logo antes dos créditos, uma coisa que estamos mais habituados a ver em animação. Ou olhem para:

O frame a esticar e a encolher.











A ultradistorção de perspectiva.



A montagem rítmica.

























Os elementos gráficos a tremer ao ritmo da música.





















HOLY SHIT!!!











Scott Pilgrim vs. The World não é original. Aquela cabeça vem de Metropolis de Fritz Lang. Mas também passa para um match cut.












Scott Pilgrim vs The World é Cinema Absoluto(c). Os sons de videojogos e a animação juntam-se para nos dar a impressão de que nada neste mundo é real e isso é exactamente a razão porque devíamos ir ver filmes de fantasia. Um filme de fantasia não tem nada para nos ensinar sobre o mundo real, e as queixas de que o filme é superficial assenta na premissa de que um filme de fantasia pode ser alguma coisa senão superficial.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Teoria sobre narrativa e a psicoterapia

Hipótese:

A narrativa clássica é uma forma de efectuar terapia.

Ou seja:

1 - Cria-se a PERSONAGEM PRINCIPAL (ou PP) ou uma configuração com quem o individuo receptor da narrativa (o leitor) possa ter empatia. Esta é a maneira de introduzir o leitor na história e exterioriza-lo, ou seja, apresentar acções de outra pessoa exteriores ao Leitor como aquelas que o Leitor poderia ter feito ele mesmo. Ao invés de perguntar "Fale-me um pouco dos seus pais" criamos os Pais fictícios da PP e avançamos com a narrativa dependendo de alguém com quem o Leitor simpatiza fortemente, e que vê como si próprio, tendo acesso aos pensamentos da PP, tal como, na realidade, tem apenas acesso aos seus próprios.

2 - A história avança a partir de um PROBLEMA PRINCIPAL (PRP) que envolve a PP. A PP é então apresentada com um homicídio difícil de resolver, uma crise de meia-idade, uma traição amorosa, eventos em que geralmente é suposto não terem sido instigados pela PP, mas que a afecta profundamente.

3 - A RESOLUÇÃO DO PRP envolve uma alteração na vida da PP. A PP, que até agora teve como função extrair a simpatia do Leitor, altera a sua vida de maneira que o Leitor compreenda (a resolução em si deve ser repetida 2 ou 3 vezes) o que e como foi que o PRP foi resolvido.


Para a próxima vez: O objectivo final da terapia emocional

Hm.

Como não há qualquer espécie de discussão inteligente sobre filmes em português, estes sites são úteis:

They Shoot Pictures, Don't They?
David Bordwell's "Observations on Film Art"
Glenn Kenny's "Some Came Running"
Jim Emerson's "Scanners"
Roger Ebert

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